Geralmente, as pessoas que se destacam em suas funções são aquelas que fazem sempre algo além do que lhe cabia. Inovam, têm a coragem de subir um degrau a mais que os outros. Sergio Pininfarina foi uma dessas pessoas. Ele poderia apenas ter um estúdio e desenhar carros por toda a sua vida, mas ele quis ser mais do que isso, ele quis criar obras de arte sobre quatro rodas, quis desenhar objetos que mudariam a vida de milhões de pessoas e conseguiu.
Sergio, em 1959, trabalhando sob a supervisão do pai |
Nos anos 30, Battista criou uma empresa familiar para trabalhar com carros, a Carrozzeria Pinin Farina. Battista havia ganho o apelido de Pinin, caçula em italiano, e incorporado ao nome do negócio. O pai não levava muito jeito, mas reconheceu no filho, Sergio, o dom de um artista. A primeira luta foi para evitar comparações entre Sergio e o primo famoso, Giuseppe Farina, primeiro campeão mundial de Fórmula 1. O apelido acabou incorporado ao nome da família. Battista e Sergio transformaram-se em Pininfarina, além do filho também se formar em engenharia industrial.
Battista (esq.), Enzo Ferrari e Sergio Pininfarina (dir.) |
Depois de estudar, Sergio foi trabalhar com o pai. Em 1956, assumiu o comando da Pininfarina ao lado do cunhado, Renzo Carli. Um dos novos clientes do estúdio não gostou da notícia, por achar Sergio novo demais para comandar algo tão importante. Enzo Ferrari, o cliente, passou a duvidar da capacidade do jovem designer em atender a demanda da Ferrari, mas Sergio tratou de provar que Enzo estava errado. além de mostrar que tinha capacidade, conseguiu algo mais difícil: conquistou a confiança do Comendador.
A Dino Berlinetta Speciale de 1965: primeira Ferrari com motor central |
A maior prova dessa relação foi o fato de Pininfarina ter convencido Ferrari a fazer carros com motor central. Graças ao convencimento de Sergio, as Ferraris que conhecemos hoje são como são. Não fosse por ele, os carros de Maranello seriam completamente diferente ou, talvez, nem existiriam. Além disso, saíram da prancheta de Sergio os desenhos de clássicos do Cavallino Rampante, como a 250 GT, a 288 GTO, a Testarossa e a F40. Nunca uma parceria foi tão longa e frutífera na indústria automobilística.
O Nash Healey, das mãos de Sergio Pininfarina para as de Clark Kent |
A Ferrari era a menina dos olhos do estúdio, mas Pininfarina era um apaixonado por design e deixou sua arte pousar em outras garagens, fazendo projetos para a Rolls Royce, Mitsubishi, Peugeot, Fiat, Lancia e Alfa Romeo, além de projetar móveis e utensílios domésticos. A extinta Nash pediu a Pininfarina que desenhasse alguns modelos. Entre eles, o famoso Nash Healey, conhecido mundialmente por ser o carro de Clark Kent, no seriado "Adventures of Superman", passado nos anos 50, além de ser um dos mais procurados entre os colecionadores de antigos.
Com outra de suas obras, a Ferrari Testarossa, nos jardins da Carrozzeria Pininfarina |
Sergio dirigiu a Carrozzeria Pininfarina de 1966, quando Battista faleceu, até 2002, ano em que passou o comando para o filho mais velho, Andrea. Ao assumir o controle, a Pininfarina produzia cerca de 500 unidades por ano. Ao deixar a presidência, Sergio entregou uma empresa que passava de 50 mil unidades por ano. Em 2008, o filho e sucessor morreu em um acidente nas estradas italianas e a empresa passou às mãos do outro filho, Paolo. Sergio nunca se recuperou totalmente desse golpe do destino.
Sergio e os filhos, Andrea (esq.) e Paolo |
Oitenta e cinco anos depois de vir à luz, Sergio deixou para o mundo um legado sem igual. Além de homem de negócios de sucesso, ele foi, no final da vida, professor da Universidade Politécnica de Turim e Senador Vitalício da República Italiana, mas nada disso lhe importava, pois sua vida havia sido dedicada à paixão pelo novo, pelos carros e por tornar o dia a dia algo mais belo e menos comum. Obrigado, Sergio, por ser o responsável pelo brilho nos olhos de muitos. Grazie!
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