Neste fim de semana, a NASCAR vai correr em Watkins Glen. O tradicional circuito americano, um dos primeiros traçados mistos a receber corridas da categoria, é lembrado no mundo todo por uma tragédia: A morte horrorosa do francês François Cevert, decapitado pelo guardrail durante a classificação para o GP de Fórmula 1 de 1973. O que muita gente se esquece é que, em 1970, Watkins Glen foi o palco da primeira vitória brasileira na Fórmula 1.
No dia 4 de outubro (Dia de São Francisco de Assis) daquele ano, Emerson Fittipaldi, sempre ele, largou para sua quarta corrida na Fórmula 1 e conduziu o Lotus 72, ainda com o vermelho e dourado da Gold Leaf, para a primeira vitória sua, aos 23 anos de idade. A bandeira brasileira seria agitada pela primeira vez no degrau mais alto do pódio da principal categoria do automobilismo mundial.
A Lotus passava por um momento difícil, pois um mês antes, no dia 5 de setembro, perdeu seu piloto principal, o austríaco Jochen Rindt, morto depois do seu carro escapar da pista na curva parabólica de Monza e bater muito forte no muro. Chocado com a fatalidade, Colin Chapman correu no GP seguinte, no Canadá, apenas com Graham Hill. Para os EUA, o lendário dono da Lotus resolveu dar uma balançada geral e começou efetivando Emerson como substituto de Rindt. "Vá para Watkins Glen e faça uma boa corrida. Pilote discretamente e termine a prova. Em 1971, começamos tudo do zero", foram as palavras de Chapman para Emmo. O "começar do zero" significava um contrato entre o brasileiro e a Lotus para toda a temporada seguinte.
Dentro da corrida discreta pedida pelo chefe, Emerson classificou-se em terceiro no grid. Jacky Ickx, de Ferrari, fez a pole. Com o tempo instável, Emmo optou por pneus slick e se deu mal no princípio, perdendo várias posições e brigando para manter a Lotus na pista. A chuva não caiu e a pista foi secando, fazendo o jogo virar em favor do brasileiro, que começou a se recuperar, beneficiado pelas paradas dos ouros pilotos e por sua habilidade natural. Na volta 47, Fittipaldi era terceiro novamente, atrás do mexicano Pedro Rodríguez e de Ickx, que dominava a prova.
No giro 56, a Ferrari do belga apresentou problemas na injeção de combustível. Uma entrada nos boxes tirou de Ickx qualquer chance de um bom resultado. Ele ainda voltaria à pista, na 12ª posição. Emerson seguiu na sua tocada firme e viu Rodríguez entrar para trocar pneus quando faltavam 8 voltas para o final. Daí em diante, o Rato tratou apenas de administrar a liderança e receber a primeira quadriculada para o Brasil na Fórmula 1. Rodríguez chegou em segundo e Reine Wiesel, com a outra Lotus, completou o pódio.
Jacky Ickx ainda terminou em quarto, mas a combinação dos resultados fez o título ser confirmado matematicamente para Jochen Rindt, que tornou-se o primeiro e único campeão póstumo da Fórmula 1. Numa prova de esportividade, Jacky Ickx ainda venceria o último GP da temporada, no México.
- Até 1972, não havia numeração fixa na Fórmula 1. Emerson venceu com o #24, um número que é alvo de brincadeiras no Brasil, por representar o veado no jogo do bicho.
- Apesar de ter presenciado a primeira vitória do Brasil, o GP dos EUA nunca trouxe boa sorte para os brazucas. Depois de 1970, só voltaríamos a vencer em 1990, com Ayrton Senna, que repetiu a dose em 1991. A quarta e última vitória verde e amarela foi de Rubens Barrichello, em 2002.
- Devemos levar em consideração nessa contagem de tempo que o GP dos EUA ficou fora do calendário entre 1981 e 1988, 1992 e 1999, além de estar fora, novamente, desde 2008.
- A ligação de Emmo com os EUA é algo sobrenatural. Depois de fracassar com o sonho da Copersucar-Fittipaldi na F1, Emerson voltou a ter sucesso como piloto nos EUA, onde disputou a Indy de 1984 a 1996, com um título e duas vitórias na Indy 500.
- Apesar de correr por 12 anos nos EUA, Emerson nunca correu em Watkins Glen pela Indy, pois a pista sediu 3 provas, entre 1979 e 1981, saiu e só voltou à categoria em 2005.
- A marca de cigarros Gold Leaf é da mesma empresa da John Player's Special, a Imperial Tobacco Group. A troca do vermelho e dourado pelo negro e dourado aconteceu em 1972 e as marcas, juntas, ficaram com a Lotus por 18 anos, de 1968 até 1986.
Wikipedia
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