O dia que Piquet saiu no tapa com Salazar

O ano de 1982 vinha sendo pesado, após a morte do canadense Gilles Villeneuve, durante a classificação para GP da Bélgica, em Zolder, no mês de maio. Na Alemanha, também durante a classificação, o companheiro de equipe de Gilles, o francês Didier Pironi, corria sob chuva e teve a sua Ferrari catapultada na roda traseira da Renault de Alain Prost (em um acidente muito parecido com o que vitimou Villeneuve), sofrendo graves lesões nas pernas, que o fizeram abandonar a Fórmula 1. Como já havia marcado a pole com um tempo que não foi superado, a posição de honra no grid de Hockenheim ficou vaga e a Ferrari optou por largar com apenas um carro, pilotado por outro francês, Patrick Tambay.

Apesar de todo esse clima tenso, o GP da Alemanha de 1982 acabaria produzindo um dos momentos mais hilários de todo o esporte. Na largada, René Arnoux foi mais rápido com a sua Renault, mas viu Nelson Piquet, com a Brabham-BMW, superá-lo na volta seguinte e começar a dominar a prova. Correndo na casa da fornecedora de motores, o brasileiro mandou na corrida e tudo levava a crer que seria uma vitória fácil para a equipe de Bernie Ecclestone. A despeito do outro piloto da Brabham-BMW, Riccardo Patrese, ter abandonado na volta 13 com problemas de motor, os alemães mostravam-se confiantes no brasileiro.

Arnoux, Tambay e Rosberg (da esq. para a dir.) ficaram no pódio, em Hockenheim. 
Tudo ia bem até a volta 17, quando Nelson Piquet fez a aproximação em Elizeo Salazar, chileno que corria pela ATS-Ford, para lhe dar uma volta. Na chegada da chicane norte de Hockenheim, Salazar saiu do traçado e Piquet aproveitou a melhor condição técnica sua e da Brabham para frear mais tarde, ultrapassando a ATS e ainda ficando com o traçado para a chicane. Acontece que Salazar, por algum motivo, calculou mal a freada, deixando o carro muito dentro da curva. A roda dianteira direita do ATS tocou na traseira esquerda do Brabham e os dois rodaram, saindo da prova.

Enquanto o chileno saia desconsolado do carro, o atual campeão mundial não teve dúvidas: Desceu da sua Brabham e partiu para cima de Salazar. Ainda de capacete, começou uma série rápida de chutes e sopapos digna de filme B de ação. Revoltado com a cagada do retardatário, Piquet, segundo contam alguns, também não deixou que Salazar entrasse no carro que levaria-os de volta aos boxes, deixando o piloto a pé. No vídeo abaixo, a briga completa, com comentários de James Hunt. Notem, logo após o acidente, um indignado Ecclestone esperneando nos boxes:


A corrida acabou com a única Ferrari vencendo, com Tambay. Arnoux e Keke Rosberg, de Williams, completaram o pódio. Michele Alboreto (Tyrrell-Ford), Bruno Giacomelli (Alfa Romeo) e Marc Surer (Arrows-Ford), nessa ordem, fecharam a zona de pontuação que, na época, premiava os 6 primeiros. Além de Piquet, o Brasil torcia por Chico Serra (FIttipaldi-Ford) e Raul Boesel (March-Ford).

Anos depois, Piquet soube por um engenheiro da BMW que trabalhava no programa de Fórmula 1 da montadora alemã que, assim como aconteceu com Patrese, o motor de Piquet não aguentaria mais duas ou três voltas e a corrida caseira da marca bávara acabaria com uma vergonha maior ainda se os dois carros perdessem o motor na pista. Em seu livro de memórias "Eu me Lembro Muito Bem" (1999, Editora DBA), Nelson Piquet, em um tipo de pedido de desculpas, contou essa história e agradeceu Salazar pela barbeiragem que salvou a reputação da BMW em casa.

Fontes:
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